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IMELC lança plataforma Ingresso Social de acesso à cultura para crianças e jovens de projetos sociais

A entidade vai levar os atendidos para experimentar arte e cultura em peças de teatro, espetáculos de dança e muitos outros

Essa quarentena pode ter sido um balde de água fria para a cultura, mas depende do ponto de vista. A IMELC lança nessa semana o projeto Ingresso Social, uma plataforma colaborativa que possibilitará levar crianças e jovens atendidos por projetos sociais a experiências únicas que vão podem mudar a visão de mundo e da arte para quem precisa.

Com know-how e portfólio consistente na área de gestão de eventos e programas de esporte e cultura, há 10 anos a IMELC promove oportunidade de acesso, prática e transformação através da vivência com o esporte e a cultura. E por isso, o próximo passo nessa jornada foi intuitivo: fazer um projeto gerido e executado pela própria entidade e que pudesse ser sustentável e contínuo.

O ingresso Social é uma plataforma colaborativa que concentra recursos, entidades beneficiárias e parceiros culturais em um só lugar para conectar as pontas e beneficiar quem é a razão desse projeto existir: crianças e jovens com pouco ou nenhum acesso. A plataforma seleciona, através de um processo de checagem de idoneidade, entidades que queiram beneficiar seus atendidos e os conecta com atividades culturais que sejam apropriadas para a faixa etária e tenham cunho educativo, histórico e cultural. E o mais importante: a plataforma promoverá os passeios fornecendo transporte, alimentação e monitoria para garantir um passeio seguro e muito divertido.

O acesso à cultura e arte no Brasil não é fácil. Mais de 12 milhões de brasileiros nunca foram ao teatro e 10 milhões nunca foram ao museu, segundo dados do Instituto J.Leiva. E de acordo com dados do IBGE os jovens são um dos grupos sociais mais afetados pela falta de oportunidade de contato com o maravilhoso mundo da arte e cultura, que tem o potencial de incentivar a criatividade, o processo de aprendizagem, as funções executivas (como trabalho). 

Além disso, incentivar a cultura nas fases de crescimento e amadurecimento também tem impacto no futuro da sociedade, garantindo e alimentando novos talentos para a cultura brasileira e fomentando o mercado cultural, responsável por cerca de 4% do PIB brasileiro.

Primeira ação

A primeira ação do projeto aconteceu no dia 7 de setembro e levou 10 crianças para um sessão de teatro Drive-In de “Frozen 2”. Depois de meses em casa, a criançada se divertiu ao som das músicas que embalam a cultura pop infantil dos últimos anos, como “Livre Estou”. Lanchinhos, almofadas, máscaras e álcool gel foram oferecidos as crianças, que se mantiveram dentro dos carros, fazendo sempre uso da máscara. A noite, que baixou fria e perfeita para o espetáculo “congelante”, reservou algumas surpresas para os pequenos, como uma chuva de neve, jogos de luzes e os personagens mais queridos da franquia cantando ao vivo e amplificados através da frequência FM dentro dos carros.

Para que isso acontecesse,  todas as crianças da ação social da escola de samba Dragões da Real foram testadas para Covid-19 horas antes do espetáculo e se mantiveram em espaço controlado até o início da apresentação. Todos os monitores e profissionais que acompanharam a ação também foram submetidos a testagem, rendendo um dia de cultura e lazer para os pequenos, com muito cuidado, responsabilidade e, o que eles estavam mais preocupados: diversão!

 

 

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Mulheres nos games: maioria, preconceito e superação

Os jogos eletrônicos, games, e-sports e todas as suas variáveis invadiram a cultura digital mundial em uma onda que mescla entretenimento, competição, esporte e arte. Quem percebeu tarde esse traço da cultura mundial pode não saber que, no Brasil, acredita-se que 73% da população tenha se rendido aos jogos, que se adaptaram às plataformas como celular e computador. 

Um público dentro desse nicho chamou a atenção a partir de uma pesquisa realizada em parceria entre Go Gamers, ESPM e Blend New Research. O número de mulheres que jogam jogos eletrônicos no Brasil é de 69,8% segundo Pesquisa Games Brasil (PGB) – independentemente da plataforma. E de acordo com o mesmo estudo, as mulheres representam mais de 53% dos jogadores do país, tornando assim, o sexo feminino representante da maior parcela dos praticantes. Sendo que 38% se consideram jogadoras hardcore, com hábito de jogar. Esse número mostra algo que parece não ser claro para a indústria e para os jogadores do sexo masculino. Isso porque a percepção de que esse tipo de entretenimento é para meninos é um estigma que marca a modalidade e causa repercussões negativas para as mulheres.

Como em tantas áreas de trabalho, a desigualdade salarial é uma amostra de como o tecido social enxerga as mulheres. Estima-se que os homens jogadores profissionais recebam até 80% mais do que as mulheres, além da grande quantidade de campeonatos masculinos, que também têm grande visibilidade, atraindo assim, patrocínio, publicidade e mais oportunidades de crescer na área. Mesmo em campeonatos mistos, não é raro ver que mulheres podem receber prêmios de até 50% menos do que os homens. Além de serem rechaçadas, sendo que jogadoras ocasionais que optam, muitas vezes, por usar nicknames (apelidos) masculinos em jogos on-line.

Além de questões sociais, parte dessa explicação também pode estar no baixo número de mulheres envolvidas profissionalmente com a indústria de jogos – ou seja, na parte de criação, programação, entre outras áreas essenciais. De acordo com o Censo da Indústria Brasileira e Global de Jogos Digitais (2014), as mulheres representam 15% desses profissionais, taxa essa que ainda é maior do que de outros países.

E não só de taxa de representatividade feminina na indústria se alimenta a disparidade entre homens e mulheres. Um fator também tem sido colocado em xeque pelas mulheres: a representação física das personagens femininas. Como uma influência da indústria do entretenimento, com longa tradição em representar os corpos e personalidades femininos de forma exagerada ou fora da realidade, os jogos eletrônicos também foram impactados pelo ideal de corpo e beleza, que também causa estranhamento e desconforto para jogadoras.

No entanto, o burburinho das desigualdades mobiliza cada dia mais mulheres a falar sobre o tema e se posicionarem como jogadoras.

 

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Calistenia: o peso do corpo como principal ferramenta de exercício

 

Durante a pandemia da Covid-19, quem ama se exercitar e ainda não voltou para a academia, com certeza fica procurando oportunidades para treinar em casa com poucos recursos. Pois saiba que a Calistenia é uma opção pra isso.

Apesar de os exercícios praticados na Calistenia serem tão antigos quanto a própria prática consciente da atividade física, a modalidade de treino foi difundida apenas no século XIX, por um suíço chamado Phoktion Heinrich Clias, que por volta de 1822, organizou um método de exercícios físicos e levou seu treino para Inglaterra e França. Essa metodologia acabou sendo adaptada para academias, centros de treinamento, e sendo incorporada por outros métodos, como o do Crossfit dos dias de hoje.

A Calistenia é uma forma de treinamento que traz benefícios importantes para a vida saudável como: bem-estar, saúde e um melhor estilo de vida. Mas a Calistenia também se destaca por benefícios específicos que ela traz, como domínio corporal, grande definição e qualidade muscular: “é muito nítida a diferença [de um praticante de Calistenia] em relação a um praticante de musculação tradicional, porque a Calistenia deixa a pessoa mais slim, esbelta e com mais equilíbrio”, conta Pedro Mazzon, sócio da organização Calistenia Brasil. 

O Pedro teve seu primeiro contato com a Calistenia em 2013, quando conheceu seu sócio Luiz Otávio Mesquita (filho do apresentador Otávio Mesquita) com o qual começou a praticar a modalidade em parques da cidade até, um dia, decidirem se dedicar a levar os benefícios da Calistenia para o maior número de pessoas possível. 

Para conhecer mais sobre as experiências dele e a vantagem da prática, nós batemos um papo super legal que você confere abaixo:

IMELC – Quando você se envolveu com o mundo da Calistenia?

Pedro – Me envolvi em 2013, quando eu conheci meu sócio, Luiz Otávio Mesquita (filho do apresentador Otávio Mesquita) e começamos a praticar juntos no parque do Ibirapuera. As coisas se desenvolveram de tal forma que acabou resultando no Calistenia Brasil, a maior organização de Calistenia da América Latina.

IMELC – Quais são as ferramentas necessárias para a prática?

Pedro – Basicamente não precisa de nada além do próprio corpo. Os equipamentos mais tradicionais que costumamos usar são a barra fixa e o conjunto de barras paralelas. Mas é muito possível adaptar com utensílios e móveis de casa. É muito prático e conveniente. Se você vai para a praia ou não pode sair de casa, dá pra treinar. Por isso muita gente adotou a Calistenia durante esse momento de isolamento social. 

 IMELC – Ainda existe algum tipo de confusão sobre o que é Calistenia, o que é musculação, o que é Crossfit?

Pedro – Existe, sim. Ainda há uma grande confusão porque alguns equipamentos são similares ou os mesmos. O que muda principalmente é a qualidade de execução. Enquanto o foco da Calistenia é a qualidade, o do Crossfit, por exemplo, é a quantidade, mais focado em fazer o maior número de repetições no menor tempo possível. Na Calistenia, a gente prioriza que a pessoa faça uma, duas, três barras, mas faça direitinho, com uma técnica de execução que a gente chama de estrita, com força real.

IMELC – Existem competições de Calistenia no Brasil. Você costuma participar ou assistir as competições?

Pedro – Hoje em dia não é mais o nosso foco, mas já chegamos a organizar competições, inclusive Sul-Americanas. O lado competitivo da Calistenia é uma outra vertente, conhecida como Street Workout, que é um lado mais freestyle, mais acrobático, praticamente uma performance na barra. A Calistenia é mais uma metodologia de treinamento.

IMELC – Quem pode praticar esse tipo de atividade física?

Pedro – Ela tem uma vantagem muito legal que é poder transformar um exercício em muito fácil ou muito difícil. A maioria dos praticantes acaba sendo de pessoas que já tiveram contato com outras modalidades de treinamento por ela ser muito desafiadora e precisar de muita dedicação. Mas todo mundo pode começar. Os exercícios podem ser subdivididos em progressões, exercícios mais básicos, e é por isso, que a gente desenvolveu um passo a passo no nosso curso on-line, justamente para as pessoas iniciantes conseguirem desenvolver e desbloquear os movimentos. 

IMELC – A Calistenia pode ser praticada dentro de academias mas ela também tem uma vocação outdoors, né? Quais os benefícios residuais que isso tem na prática? 

Pedro – Muita gente pratica dentro das academias, mas a maioria prefere treinar outdoors. Não tem comparação. Você tem contato com a natureza, vai treinar e já pode levar o cachorro pra passear junto, a paisagem é muito mais bonita e o ambiente é muito mais agradável. Isso acaba desencadeando muito mais bem-estar, a pessoa pode se desconectar. É mais legal do que estar em uma sala fechada, cada um com seu fone de ouvido. A atividade para de ser uma obrigação e passa a ser um prazer.

 

IMELC – Ano passado a Calistenia foi uma das atividades disponíveis na Virada Esportiva de São Paulo. Qual a importância de trazer isso para o ambiente público, de acesso à modalidade?

Pedro – Nossa participação na Virada foi muito legal porque está muito ligado ao nosso propósito de tornar esse conhecimento mais acessível e disponível para o maior número de pessoas. Ainda falta muita informação para as pessoas…. a gente percebe isso vendo que até mesmo os profissionais de educação física não têm esse aprendizado na faculdade, e nosso papel é esse: tornar o conhecimento mais disponível e mais organizado.

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O Cenário dos e-games: entre mercados que mais crescem no mundo

Em momentos de pandemia de Covid-19, as práticas esportivas convencionais – que se fazem do encontro presencial e interação física entre jogadores – segue impossibilitada, mas desde antes dessa situação os jogos eletrônicos trouxeram uma nova dinâmica para o esporte: promover o encontro, a troca, a competição e a estratégia dentro do ambiente on-line.

Promover os jogos eletrônicos é não só contemplar uma tendência esportiva já abraçada pela população, mas também continuar fomentando as práticas esportivas durante a pandemia, de forma a trazer entretenimento e lazer qualificado e, principalmente, continuar fomentando os valores do esporte na sociedade. Além disso, essa iniciativa tem o potencial de alcançar crianças e jovens estimulando o uso recreativo qualificado do ambiente on-line, ou seja, que não tem valor de uso do jogo, mas de também abraçar o interesse deles, oferecer um ambiente seguro para prática, além de promover valores saudáveis do esporte como competição, desenvolvimento da cognição, autorregulação do comportamento, atenção e persistência.

Estima-se que, no Brasil, 66% da população seja de jogadores de jogos eletrônicos, segundo pesquisa Game Brasil 2019, realizada pela Sioux Group, Blend News Research e ESPM. O país é também o 13º maior mercado de jogos eletrônicos do mundo segundo pesquisa da consultaria Newzoo – maior consultoria de análise de jogos e e-esportes do mundo. Esses são apenas dois dos dados que mostram que os jogos eletrônicos chegaram no Brasil para ficar e o tamanho do potencial da área.

A perspectiva de crescimento do mercado de games no país é de 5,3% até 2022. Em 2019, o faturamento do setor no país atingiu 1,5 bilhão de dólares, mantendo a posição de líder latino-americano e 13º na classificação global. Além disso, em 2018, o faturamento dos games ficou em torno de 134 bilhões de dólares, enquanto a de cinema ficou em 41 bilhões.

A onda de jogos eletrônicos, que cresce cada vez mais, mostra suas tendências na população mais jovem. No Brasil, crianças e jovens de 10 a 20 anos que consomem futebol chega a 24%, enquanto que 43% na mesma faixa etária, consome games, de acordo com o relatório 2018 Global Esports Market Report, da Newzoo. E não é só isso. Em 2019, o número de espectadores no mundo teve um aumento de 16% – taxa que nenhum outro mercado de entretenimento vê de forma tão acentuada, o que mostra a capilaridade da área.

São indicações como essa que mostram o quanto o Brasil e o mundo está preparado para absorver e desenvolver essa modalidade esportiva, que caiu como uma luva aos tempos de pandemia.

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O que é e-Sports?

Crédito da Imagem: Reprodução: ESL
Brasil tem a terceira maior audiência do mundo em e-Sports, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

Resumidamente, o e-Sports é a modalidade competitiva dos videogames. A origem das competições de games surgiram na mesma época que os fliperamas se popularizaram. Esses lugares eram palco das disputas entre os jogadores, e ganhava)quem fazia a maior pontuação em jogos como Spacewar (1962), Pac-Man (1980) e Donkey Kong (1981). A primeira competição foi em 1972, de Spacewar, na Universidade de Stanford, nos EUA.

Na Coreia do Sul, em 2000, nasceu a Associação Coreana dos eSports, que gerencia eventos, regulariza e organizar transmissões, incentivar o interesse pelos esportes eletrônicos da população asiática e realiza vistorias para avaliar as condições de trabalho dos jogadores profissionais.

Jogos como Counter Strike, LOL (League of Legends), Valorant, Fifa e Free Fire fazem com que diversos adoradores de games parem o que estão fazendo  para verem seus ídolos jogando.

Desde 2017, a emissora Sportv está colocando em sua programação a transmissão de alguns campeonatos. Outra emissora que está investindo na parte ‘’gamer’’ é o Esporte Interativo, que lançou em 2017 o programa EI Games.

Segundo um estudo da Newzoo, consultora do mercado de games, o e-Sports movimentou mundialmente US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) em 2019 e deve se aproximar de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões) neste ano.

Em uma matéria realizada pelo veículo, EL País, “A audiência dos Jogos Olímpicos tem caído em mercados importantes, como o dos Estados Unidos, sobretudo entre o público mais jovem. Os ‘esports’ poderiam ser um bom meio para se conectar com os jovens desconectados da televisão tradicional.”

O e-Sports apresenta sinais de que pode se tornar o esporte do futuro. A cada dia, a tecnologia está evoluindo e isso contribui para o crescimento e evolução dos games com mais acessibilidade, com melhores jogabilidades e com  jogos cada vez mais realistas.

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Lançado relatório sobre Impacto da Covid-19 nas OSCs brasileiras

A Covid-19 não é um problema simples para nenhum setor e para o terceiro setor também – apesar da atuação essencial na assistência e socorro às pessoas. E é exatamente isso que mostra o relatório “Impacto da Covid-19 nas OSCs brasileiras”, realizado com base nas informações de mais de 1700 OSCs brasileiras, em todas as regiões do país.

O levantamento mostra que números impressionantes de como a área foi afetada e o papel das suas atividades no combate aos efeitos da pandemia. De acordo com o estudo, cerca de 73% das OSCs foram enfraquecidas com a pandemia. Os dados do relatório mostram que as áreas com mais dificuldade são as relacionadas ao Meio Ambiente, Cultura e Recreação. 

 O mesmo número (73%) teve ainda uma diminuição na captação. 36% tiveram que parar todas as suas atividades. A natureza das atividades é um dificultador, muitas vezes e no movimento de adaptação das atividades, mais de 50% das organizações aceleraram seus processos de digitalização e uso de ferramentas digitais para recuperar parte da autonomia nas atividades.

Apesar de todas as intempéries, um número chama a atenção no relatório: cerca de 87% das organizações estão realizando atividades para combater os efeitos desse momento, seja na assistência básica, saúde ou outras soluções importantes para continuar a garantir serviços para a população.

Apesar do momento difícil para todos cabe pensar no papel das OSCs em garantir direitos básicos do cidadão, promover oportunidades, oferecer recursos, ferramentas e aprendizado e o quanto esse trabalho é essencial para o desenvolvimento e bom andamento da sociedade. É importante lembrar que a nomenclatura OSC se refere a qualquer organização que exerça atividade com finalidade pública.

Um ponto de reflexão para nós da IMELC, uma organização de esporte, lazer e cultura, esse foi o momento de pensar de que maneira continuar promovendo aprendizado, criatividade e transformar qualquer oportunidade em uma chance de causar impacto e de formar integralmente cidadãos plurais e amplos.

Aqui estamos, entrando em mais um mês de isolamento social e com uma certeza: que se depender de nós, a experiência com a cultura vai continuar alcançando muitas pessoas.

 

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Jô Freitas – Poesia é movimento

Aqui na IMELC procuramos histórias inspiradoras de como a arte, esporte e cultura, transformam vidas, dão espaço para o diálogo, fomentam pensamento crítico e beleza na sociedade. E hoje, vamos falar de um tipo de arte que faz parte da nossa vida todos os dias: a arte das palavras.

Identidade

A Jô Freitas é atriz, poeta, Cenopoeta, integrante do Sarau das Pretas e idealizadora do Sarau Pretas Peri, apresentadora, professora, nordestina, mulher negra e muitas outras coisas. Logo no começo da conversa, quando perguntada sobre suas identidades no campo das artes e da profissão, Jô comenta que ser artista não era algo que estava dado na sua vida: “eu venho de uma família em que as mulheres são todas empregadas domésticas […] e quando eu me vejo nesse lugar de querer ser artista, parecia que não estava nessa linhagem”, diz Jô. “Todos os dias eu tenho que buscar minha identidade em palavras”, completa.

Sua jornada pela busca de identidade alcançou as artes, em 2003, quando o teatro entrou na sua vida. Apesar de não ter nascido em família de artistas, sua inclinação para as artes começou a se mostrar já muito jovem através da sua necessidade de ter uma voz: “eu era uma menina muito anulada, muito tímida, sem muitos amigos”. Acompanhada das irmãs – que deixaram a prática mais tarde – Jô encontrou nas aulas de teatro uma ferramenta para sua livre expressão. E querer se dedicar às artes não era fácil. A pequena Jô  esperava de domingo a domingo pelas aulas, e insistir demandou muita força de vontade. O transporte e as roupas para ir nem sempre eram recursos à disposição, e para manter sua paixão pelo teatro, Jô vendeu coxinha e trabalhou em lojas de móveis: “tudo isso era para que eu tivesse dinheiro [para fazer as aulas]… nessa época, eu não queria ser artista exatamente, eu queria existir”, completa.

E quando trabalhar com artes passou a ser um desejo, a história de sucesso como multiplicadora da literatura nasceu. Ela, que já tinha estudado teatro até então, em 2009 descobriu um Sarau em Suzano, no qual artistas compartilhavam textos com experiências que eram muito próximas ao coração de Jô: “eu comecei a ver vários poetas dizendo coisas sobre sua identidade e resistência, coisas que eu escrevia nos meus cadernos”. 

Cenopoesia

Pouco depois, em 2010, a jovem poeta conheceu o trabalho de Ray Lima e Junio Santos, dois precursores de um outro cenário que mistura o teatro, a literatura e a música: a Cenopoesia. E ali um amor por esse formato nasceu. Ali, poesia era movimento e vida, não uma arte intelectualizada: “a poesia não precisa ser uma coisa chata, que necessita de postura chique pra ler, ela pode se dispor do corpo, pode fazer poesia em movimento” –  diz – “eu acho que era isso que eu buscava, porque antes quando se fala de poeta, a gente pensa em escritores dentro de um escritório, em seus momentos para escrever, mas os escritores periféricos são aqueles escritores de tanque, que vivem, que pegam trem… isso é movimento”, completa a artista.

Com a Cenopoesia, Jô passou a ser reconhecida no nicho e a aplicar oficinas da prática, inclusive para crianças e jovens de escolas públicas. Promover a oralidade e a necessidade de fazer a poesia com a participação fundamental do corpo, Jô explica, é mais do que uma atuação: “a manifestação dos atos artísticos potencializam a ancestralidade e identidade do ser, então a Cenopoesia potencializa o indivíduo social e, ali, ele não é só um ator. A Cenopoesia aproxima a arte do artista”.

O movimento da vida na arte se mostra também nas plataformas por onde a poesia se faz. Em seus trabalhos, a artista também começou a explorar plataformas como vídeo e até realidade aumentada.

Sarau Pretas Peri e Sarau das Pretas

Jô Freitas ficou conhecida nos últimos anos, entre outras coisas, por dois projetos cruciais que trazem a vivência de mulheres negras para a folha de papel. E tudo isso começou pequeno. 

Em 2014, Jô percebeu uma necessidade latente de arte acessível na sua região, no Itaim Paulista, e ali vê a oportunidade de ser uma agente de implementação de arte na região. No primeiro momento, com medo de o Sarau ser algo que as pessoas não se identificassem, Jô teve a ideia de promover o teatro, e assim, companhias e grupos passaram a se apresentar em um terreno baldio, no bairro Camargo Velho. E Jô conta que a própria comunidade fazia o espaço de convivência: “as pessoas levavam cadeiras, tapetes e papelão, além de limpar o terreno para assistir os espetáculos”, relembra. Depois de um ano e meio,e muito esforço para mostrar a relevância do projeto e necessidades do local, o espaço foi revitalizado e virou uma praça. Nessa inauguração, foi quando o Sarau Pretas Peri se apropriou do modelo que é hoje: Jô, Juliana Juliana Jesus e Tayla Fernandes – que já se conheciam – fizeram o seu primeiro sarau. E o Pretas Peri decolou.

E assim, os braços da menina-polvo alcançaram outros lugares. Jô foi convidada pela Débora Garcia, poeta, para participar do Sarau das Pretas – um sarau itinerante, nascido em 2016, que reúne poetas de vários cantos da cidade. O grupo cresceu e recentemente, em meio à pandemia, o grupo lançou uma antologia com obras de 30 poetas e escritores. “falar e fazer um livro físico é estar junto dos outros livros e fazer parte da história da literatura.”, reflete Jô Freitas.

Em 2019, junto com o Sarau das Pretas, Jô e outras participantes foram convidadas a ir para Moçambique participar de um festival de poesia, e como para todos os artistas, a experiência contou com uma grande mobilização: “foi uma experiência sem igual, que mudou a minha escrita e visão de mundo”, finaliza.

***

A história da Jô, é uma dessas histórias que nos faz acreditar que a arte é realmente um veículo de discussão social e mobilização social, elaboração de identidade e, até mesmo, de uma ocupação profissional – mais do que um ofício da paixão, um ofício que posiciona o indivíduo como um ser social, influenciador e influenciado do seu entorno, pequenos universos em expansão no meio da sociedade. E que universos.

 

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Jô Freitas

QuitoProduções

Bruno Leal

Antônio Henrique

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Nossas Histórias – O caminho da pequena artista

Aqui no Nossas Histórias, a gente mostra como a arte pode ser um caminho para transformar o dia a dia de crianças, jovens e adultos em uma vida mais colorida, mais criativa e mais feliz. E por isso, hoje vamos falar sobre a história da Melissa, a pequena desenhista que tem cada vez mais mostrado que a arte a escolheu… e vice versa. 

Ela tem 10 anos e começou a ter aula de desenho há um ano e meio. Em seu desenvolvimento na arte, Melissa já começa a mostrar seus primeiros interesses e preferências – seus estilos favoritos são mangá e realismo. “Ela já demonstra interesse também em fazer faculdade de artes e se tornar uma artista profissional. Ela tem um projeto de montar uma loja virtual para vender seus desenhos e projetos artesanais”, conta a mãe, Ronilda.

O talento da jovem nas atividades manuais não fica só na arte de entrelaçar o lápis pelos dedos para embelezar o papel. Ela também pratica – e tem se mostrado muito boa – em fazer amigurumis, técnica de crochê japonês que, pela sofisticação e beleza da trama, se tornou uma arte muito requisitada na mundo do design. E esse apreço vem de família: “o crochê ela aprendeu comigo, e eu aprendi com a minha mãe. Ela queria muito, e hoje ela consegue fazer com a mão direita mesmo sendo canhota. Eu ainda ajudo ela a fazer algumas partes, mas a maior parte é ela quem faz”, diz a mãe.

A mãe conta que, quando chega das aulas, Melissa se junta, faz aulinhas e ensina as técnicas para os amigos. Além das aulas com a professora Paulinha – que é uma grande incentivadora do talento dos alunos – a pequena também gosta de buscar nos livros suas inspirações e desenvolvimento: “ela tem livros de desenho de mangá, que ensinam a fazer, por exemplo,  corpo e rosto, e ela gosta muito de ficar vendo para aprender cada vez mais”, conta Ronilda.

A Melissa é também uma ótima estudante. Com o incentivo de uma professora, a jovem conseguiu uma bolsa em uma importante escola da região. E então, começou a fazer uma coisa curiosa: passou a vender alguns de seus desenhos para os colegas de classe. “Eles mandavam fotos e a partir da foto ela fazia desenhos e cobrava R$ 10,00 pela arte”, diz a mãe. Além disso, Melissa começou a se desenvolver em pintura em tela e tem até uma encomenda de um quadro. Por ainda estar no começo, ela estava contando com a ajuda da professora Paulinha, e como tudo nos últimos meses, a atividade foi interrompida. Seu desenvolvimento nos desenhos realistas, que estava começando quando aconteceu a pandemia da Covid, também está em hiato, apenas esperando para continuar e mostrar a habilidade da artista.

Apesar da importância das artes para mostrar a criatividade, coordenação e talento da jovem, sua mãe conta que o desenho ajuda em um aspecto ainda mais importante da vida da artista: o controle da ansiedade. “Ela é ansiosa, então essa arte trabalha muito isso nela e ajuda até na integração na escola”.  Melissa, que também tem uma dificuldade na visão, inspira a todos ao mostrar que dificuldade nenhuma acaba com a sua motivação porque, quando o amor é sólido, não tem nenhum obstáculo que não dê para ultrapassar.


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A importância do lazer na vida da sociedade

Aqui na IMELC falamos bastante sobre os aspectos transformadores da cultura e do esporte. Mas tem uma outra ferramenta transformadora nos nossos projetos que tem um papel fundamental na vida da sociedade: o lazer. E pensando nisso, conversamos com uma pessoa que foi suuuuper especial e participativa no Rua da Gente 2019: o tio Meleca!

O tio Meleca é, na verdade, Augusto Naliato. Sua história com a promoção da recreação, lazer e da brincadeira começou dentro da própria família, com os irmãos que já trabalhavam com a arte do brincar: “eles me falavam sobre as pessoas e os lugares que eles conheciam, e isso foi me animando para seguir o mesmo caminho”, conta. Aos 14 anos, o que era só admiração pelo trabalho dos irmãos se tornou uma oportunidade real de se juntar ao trabalho para promover a sua primeira festa e começar a missão de levar alegria e a experiência de brincar para as pessoas. Desde então já são 14 anos de carreira.

E quem pensa que brincar é uma arte que só precisa de dom e força de vontade para acontecer, se engana: “durante esses anos eu já fiz vários cursos de montagem de brincadeiras, contação de histórias, especializações para faixas etárias”, diz o recreador. Mas além disso, um dos sonhos para se profissionalizar ainda mais, é o curso de Educação Física – “mas voltado para a área de recreação mesmo”, completa.

E existe mais do que a parte de brincar na atuação da recreação. Tio Meleca conta que a montagem dos eventos e da produção para que eles aconteçam, também necessita de apoio da recreação com som, montagem e outras necessidades que fazem o trabalho ir além da farra com a criançada: “eu gosto muito dessa parte de fazer as coisas para que o evento aconteça, além de também pegar a criançada para brincar e fazer a festa ser sensacional”, explica o recreador.

Como falamos no começo do texto, o tio Meleca fez parte do Rua da Gente 2019, um projeto que levou atividades esportivas, de lazer, e culturais para os quatro cantos da cidade durante quatro meses de projeto. E, apesar de trabalhar há muitos anos com a área da brincadeira, ela conta que a experiência com o público era diferente: “levar a recreação para todos, sem distinção, com o Rua da Gente, foi muito legal porque a resposta do público era sensacional. Por, muitas vezes, não ter atividades assim sempre, as pessoas queriam aproveitar o máximo possível”, relembra.

Em tempos de digitalização e do apego das crianças com conteúdos on-line, é cada vez mais importante a atuação em prol de trazer de volta o prazer de brincar para fora das telas, trazendo interação social e, até mesmo, atividade física. Augusto também explica que, no caso de crianças sem oportunidade de acesso aos meios digitais, promover a brincadeira não deixa de ter sua importância: “[as crianças que não estão inseridas na cultura digital], muitas vezes, não tem a chance de fazer outras atividades fora de casa… então é essencial levar cultura e expressão para elas”.

Nesse momento de pandemia, os benefícios do contato presencial afetou o trabalho e, como todas as atividades presenciais, foi necessário passar as atividades para o ambiente on-line, e a reestruturação das atividades, no começo, não foi fácil, principalmente quando se trata das atividades que necessitam de espaço e interação física. Mas com um pouquinho de adaptação no ambiente on-line, deu certo: “hoje fazemos atividades de caça objetos, qual é a música, stop, danças”, conta. “Os pais estão adorando porque assim os filhos conseguem interagir com os amigos”, finaliza.

 

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Nossas Histórias – Muito além de movimento

No Nossas histórias, falamos sobre histórias inspiradoras de alunos que usam a arte como ferramenta para a transformação da vida, seja em momentos de dificuldade, em momentos de felicidade ou simplesmente para demonstrar uma paixão. E hoje vamos contar uma história que teve a mistura dos três.

 Rafael Aparecido, 20 anos, é aluno de Street Dance do programa Arte e Cultura Barueri há dois anos – e sempre presente em momentos importantes, como faz questão de ressaltar. Essa paixão começou quando ele tinha 11 anos de idade, em uma pracinha perto de casa, onde os jovens do bairro se reuniam em roda de hip hop, break e street: “ eu me interessei bastante por essa arte e corri atrás para que a cada dia que passasse eu soubesse mais sobre ela não só intelectualmente como praticando também”, comenta o aluno.

E o que começou com uma brincadeira e um hobbie foi ficando mais sério com o tempo. O jovem passou a fazer parte de dois grupos de dança, os Cybernetikos e Path of Dance, com os quais chegou a se apresentar em festivais , eventos, campeonatos, teatros , parques, bibliotecas e escolas e também em cidades como Rio de Janeiro e Florianópolis. “nessa época eu aprendi muita coisa, várias modalidades que eu não sabia” – diz Rafael – “e também tive a oportunidade de levar conhecimento por muitos lugares onde passei”, completa. 

No meio desse caminho de aprendizado, a vida interferiu na arte de Rafael quando sua mãe ficou doente e passou por uma cirurgia delicada que exigia cuidados especiais e a ajuda do filho. O jovem dançarino parou de dançar por um ano e acreditava que não iria voltar: “nesse tempo, na minha cabeça, achei que nunca mais voltaria a dançar e que seria o fim de tudo aquilo que sonhei pra mim”, relembra. Depois desse período difícil, era hora de retomar o interesse adormecido. E foi aí que as oficinas de Street Dance se tornaram parte da rotina do aluno – que acompanha as aulas até hoje. Segundo o dançarino, a oficina é importante porque o ajuda a não só exercitar melhor a parte física, como também praticar e contribuir com o aprendizado de outros alunos. 

Para o jovem – cujos estilos favoritos são o popping, style e break dance – o que a dança traz de mais legal para sua vida é a oportunidade de demonstrar sua personalidade : “na dança você pode se expressar e colocar todo aquele sentimento seu de dentro pra fora, ser você mesmo. Nela você mostra tudo o que sabe e sente… e eu amo isso”, reflete Rafael.

Durante a pandemia, como para todos os praticantes de dança, a rotina do aluno foi afetada, mas apesar de dificultar a oportunidade de fazer a parte física coletiva da modalidade, Rafael tem feito o possível para treinar em casa, e se manter atualizado através de exercícios e desafios que o professor Alan Alves manda. O professor, que chegou em 2020 no programa, se surpreendeu com as habilidades do aluno  “ele é um rapaz muito dedicado e apesar de o conhecer há pouco tempo já sou feliz de ser professor dele”, diz orgulhoso.  

A dança se tornou tão importante na vida do aluno que ganhou também um papel chave nos objetivos profissionais do jovem: ele sonha em fazer faculdade de dança, ser um dançarino  famoso e, quem sabe, professor da modalidade.