WhatsApp Image 2020-08-25 at 16.35.18

Gustavo Robert – Música no Palco e expressão de fé

Já houve algumas vezes em que falamos sobre colaboradores da IMELC em atividades artísticas paralelas – sejam projetos pessoais, hobbies ou outros trabalhos artísticos – e nas quais eles se mostram além de um agente de suporte e ensino, mas também como protagonistas da sua própria arte. E hoje trazemos uma história assim!

O Gustavo é um colaborador da IMELC que está envolvido com o trabalho da entidade, de fomento às artes para crianças e jovens, só que de um jeito que não estamos acostumados a mostrar: no atendimento e na parte administrativa das atividades. Mas quem não conhece o jovem não pode imaginar a sua potência e talento em cima dos palcos. O Gustavo canta! E não é para pouca gente, não.

Nascido em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, os primeiros passos no mundo da arte começou cedo. A presença da música era rotina na família paterna, formada por cantores e instrumentistas que exerciam seus talentos no contexto da fé. De família cristã com forte atuação na igreja, o jovem se lembra dos primeiros contatos com essa arte: “quando eu era pequeno meu pai tinha uma banda com os meus tios e uns amigos da igreja e eu lembro de ir no estúdio com ele e acompanhar o trabalho”, relembra com carinho.

Desde criança, Gustavo também foi mostrando sua vocação. Já no grupo de crianças, na igreja, começou a fazer os seus primeiros solos, “com muita vergonha” – diz com embaraço – mas sempre contando com a ajuda do pai que, com experiência e técnica, o ajudava a superar o desafio e vencer as dificuldades aos pouco. “Ele foi a minha maior inspiração, e eu queria mesmo cantar igual ele. Então eu fui pegando gosto e meu amor pela música nasceu de tudo isso”, explica o artista.

Apesar de já ter uma atuação na igreja do pai, acompanhar a mãe em outra igreja cristã também era uma prática frequente, e lá, a presença de músicos e cantores profissionais do mundo gospel, passou a chamar a atenção do jovem cantor, além de também viver experiências de fé importantes e transformadoras para seu desenvolvimento pessoal e espiritual nesse período.

Por ser muito tímido, não conversava muito com as pessoas por lá e nem falava sobre o seu talento. Mas foi um dia, em um encontro da igreja que foi convidado a participar, que as coisas mudaram. Durante uma canção, sua voz se destacou, e os outros passaram a notar sua habilidade. Pouco tempo depois, em um culto para muitos jovens, veio a primeira oportunidade quando, a líder do grupo na época, o chamou para subir ao palco: “Eu não sabia onde enfiar a cara. Fiquei muito nervoso e desafinei. Nossa, eu fiquei muito triste porque sempre gosto de dar o meu melhor. Todo mundo me apoiou, mas eu sabia que tinha dado gafe! [riso]”, conta em tom de divertimento.

As oportunidades de cantar em alguns cultos foram surgindo, e finalmente, de fazer uma audição para o Ministério de Louvor da igreja – denominação cristã que conta com grande número de membros, uma estrutura artística robusta e muitas conferências e eventos importantes para o exercício de fé da comunidade E, para Gustavo, a oportunidade de desenvolver seu talento também. Por nunca ter tido aulas de canto e ter pouco conhecimento de instrumentos, não foi fácil a adaptação e evolução para um contexto mais profissionalizado dentro da igreja, com a presença de grandes músicos e profissionais do ramo. “As oportunidades pra eu cantar mais foram aparecendo e foi aí que as coisas começaram a ficar mais sérias, porque eu tinha que dar o meu melhor… eu estava ao lado de profissionais e de grandes referências pra mim”, diz. Mas com o tempo e muito esforço, o talento foi se aperfeiçoando, e com isso, também a sua fé: “toda vez antes de cantar eu faço uma oração para que quando eu cantar, não seja algo pra mim, mas pra Deus, e que as pessoas sintam isso através do meu cantar. Isso sempre acontece e todo dia uma experiência nova”, completa.

Confira abaixo um pouco da sua rotina com a música e o impacto da pandemia na sua rotina musical como prática religiosa e paixão.

IMELC – Como é sua rotina de preparação vocal?

Gustavo – Eu costumo fazer inalação porque limpa um pouco [a passagem de ar]. Dependendo do que você come ou da temperatura, às vezes pode prejudicar na hora de cantar. Além disso eu faço exercícios de aquecimento antes, para não machucar as cordas vocais, e até exercícios para desaquecer quando termino.

IMELC – Qual sua ambição como cantor?

Gustavo – Não tenho muitas ambições. Quando eu estou cantando ou ouvindo música, eu me entrego muito, mas tento só viver um dia após o outro, deixar tudo nas mãos de Deus.

IMELC – Nesse momento de pandemia, as igrejas e todos os outros espaços de eventos, palestras e arte ficaram parados. Como foi esse momento pra você?

Gustavo – No começo estava tudo muito parado, mas depois, todo mundo de máscara, com medidor de temperatura e álcool em gel. Só a banda, pessoal da mídia e os pastores indo. Nesse período, eu estudei bastante pra aperfeiçoar meus pontos fracos. Esse foi um momento de aprendizado e que, acabou sendo bom.

IMELC – Como ficou a questão dos ensaios?

Gustavo – A gente ficou muito tempo sem ensaiar. Logo no começo, iam só dois cantores e o tecladista [para a transmissão on-line] e a gente só tinha 20 minutos para passar a música… tudo bem em cima. Voltamos os ensaios há pouquíssimo tempo. Mas os cultos continuam on-line.

 

IMELC – Você também trabalha, no dia a dia, com a arte e o impacto social dela. Como você percebe o papel da arte na vida das crianças, jovens e adultos no seu trabalho?

Gustavo – [A arte] é muito importante! Através da pintura, da música, da dança, as pessoas conseguem se expressar, e ela serve não só pra aprender, mas pra tudo – para a maturidade e crescimento. Ela traz amizades novas e ela traz alegria! Eu nunca vi uma criança fazendo aula de dança, circo ou pintando, que esteja triste. Elas estão sempre conversando, interagindo um com o outro. Eu costumava acompanhar algumas aulas e hoje quando as crianças me vêem na rua, vêm me perguntar: ‘tio, quando voltam as aulas?’ É muito legal ver que elas sentem saudade das aulas presenciais. O mais gratificante é ver o sorriso deles, porque significa que isso traz alegria pra eles e até pra família porque aproxima mais os pais dos filhos.

IMELC – O que a música significa pra você?

Gustavo – Música significa muito pra mim. É arte, é vida. Quando eu estou ouvindo, eu posso pensar mais, aflorar meus sentimentos, assim pra mim como pra todo mundo [risos]. Quando eu cantava uma vez por semana, eu ficava ansioso para a próxima semana, porque era uma sensação muito, muito boa mesmo.

 

 

 

 

Os-cinco-atletas-de-esports-mais-bem-pagos-do-mundo-ESL-estadio

O que é e-Sports?

Crédito da Imagem: Reprodução: ESL
Brasil tem a terceira maior audiência do mundo em e-Sports, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

Resumidamente, o e-Sports é a modalidade competitiva dos videogames. A origem das competições de games surgiram na mesma época que os fliperamas se popularizaram. Esses lugares eram palco das disputas entre os jogadores, e ganhava)quem fazia a maior pontuação em jogos como Spacewar (1962), Pac-Man (1980) e Donkey Kong (1981). A primeira competição foi em 1972, de Spacewar, na Universidade de Stanford, nos EUA.

Na Coreia do Sul, em 2000, nasceu a Associação Coreana dos eSports, que gerencia eventos, regulariza e organizar transmissões, incentivar o interesse pelos esportes eletrônicos da população asiática e realiza vistorias para avaliar as condições de trabalho dos jogadores profissionais.

Jogos como Counter Strike, LOL (League of Legends), Valorant, Fifa e Free Fire fazem com que diversos adoradores de games parem o que estão fazendo  para verem seus ídolos jogando.

Desde 2017, a emissora Sportv está colocando em sua programação a transmissão de alguns campeonatos. Outra emissora que está investindo na parte ‘’gamer’’ é o Esporte Interativo, que lançou em 2017 o programa EI Games.

Segundo um estudo da Newzoo, consultora do mercado de games, o e-Sports movimentou mundialmente US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) em 2019 e deve se aproximar de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões) neste ano.

Em uma matéria realizada pelo veículo, EL País, “A audiência dos Jogos Olímpicos tem caído em mercados importantes, como o dos Estados Unidos, sobretudo entre o público mais jovem. Os ‘esports’ poderiam ser um bom meio para se conectar com os jovens desconectados da televisão tradicional.”

O e-Sports apresenta sinais de que pode se tornar o esporte do futuro. A cada dia, a tecnologia está evoluindo e isso contribui para o crescimento e evolução dos games com mais acessibilidade, com melhores jogabilidades e com  jogos cada vez mais realistas.

photo-1593113598332-cd288d649433

Lançado relatório sobre Impacto da Covid-19 nas OSCs brasileiras

A Covid-19 não é um problema simples para nenhum setor e para o terceiro setor também – apesar da atuação essencial na assistência e socorro às pessoas. E é exatamente isso que mostra o relatório “Impacto da Covid-19 nas OSCs brasileiras”, realizado com base nas informações de mais de 1700 OSCs brasileiras, em todas as regiões do país.

O levantamento mostra que números impressionantes de como a área foi afetada e o papel das suas atividades no combate aos efeitos da pandemia. De acordo com o estudo, cerca de 73% das OSCs foram enfraquecidas com a pandemia. Os dados do relatório mostram que as áreas com mais dificuldade são as relacionadas ao Meio Ambiente, Cultura e Recreação. 

 O mesmo número (73%) teve ainda uma diminuição na captação. 36% tiveram que parar todas as suas atividades. A natureza das atividades é um dificultador, muitas vezes e no movimento de adaptação das atividades, mais de 50% das organizações aceleraram seus processos de digitalização e uso de ferramentas digitais para recuperar parte da autonomia nas atividades.

Apesar de todas as intempéries, um número chama a atenção no relatório: cerca de 87% das organizações estão realizando atividades para combater os efeitos desse momento, seja na assistência básica, saúde ou outras soluções importantes para continuar a garantir serviços para a população.

Apesar do momento difícil para todos cabe pensar no papel das OSCs em garantir direitos básicos do cidadão, promover oportunidades, oferecer recursos, ferramentas e aprendizado e o quanto esse trabalho é essencial para o desenvolvimento e bom andamento da sociedade. É importante lembrar que a nomenclatura OSC se refere a qualquer organização que exerça atividade com finalidade pública.

Um ponto de reflexão para nós da IMELC, uma organização de esporte, lazer e cultura, esse foi o momento de pensar de que maneira continuar promovendo aprendizado, criatividade e transformar qualquer oportunidade em uma chance de causar impacto e de formar integralmente cidadãos plurais e amplos.

Aqui estamos, entrando em mais um mês de isolamento social e com uma certeza: que se depender de nós, a experiência com a cultura vai continuar alcançando muitas pessoas.

 

WhatsApp Image 2020-08-04 at 22.02.22

Jô Freitas – Poesia é movimento

Aqui na IMELC procuramos histórias inspiradoras de como a arte, esporte e cultura, transformam vidas, dão espaço para o diálogo, fomentam pensamento crítico e beleza na sociedade. E hoje, vamos falar de um tipo de arte que faz parte da nossa vida todos os dias: a arte das palavras.

Identidade

A Jô Freitas é atriz, poeta, Cenopoeta, integrante do Sarau das Pretas e idealizadora do Sarau Pretas Peri, apresentadora, professora, nordestina, mulher negra e muitas outras coisas. Logo no começo da conversa, quando perguntada sobre suas identidades no campo das artes e da profissão, Jô comenta que ser artista não era algo que estava dado na sua vida: “eu venho de uma família em que as mulheres são todas empregadas domésticas […] e quando eu me vejo nesse lugar de querer ser artista, parecia que não estava nessa linhagem”, diz Jô. “Todos os dias eu tenho que buscar minha identidade em palavras”, completa.

Sua jornada pela busca de identidade alcançou as artes, em 2003, quando o teatro entrou na sua vida. Apesar de não ter nascido em família de artistas, sua inclinação para as artes começou a se mostrar já muito jovem através da sua necessidade de ter uma voz: “eu era uma menina muito anulada, muito tímida, sem muitos amigos”. Acompanhada das irmãs – que deixaram a prática mais tarde – Jô encontrou nas aulas de teatro uma ferramenta para sua livre expressão. E querer se dedicar às artes não era fácil. A pequena Jô  esperava de domingo a domingo pelas aulas, e insistir demandou muita força de vontade. O transporte e as roupas para ir nem sempre eram recursos à disposição, e para manter sua paixão pelo teatro, Jô vendeu coxinha e trabalhou em lojas de móveis: “tudo isso era para que eu tivesse dinheiro [para fazer as aulas]… nessa época, eu não queria ser artista exatamente, eu queria existir”, completa.

E quando trabalhar com artes passou a ser um desejo, a história de sucesso como multiplicadora da literatura nasceu. Ela, que já tinha estudado teatro até então, em 2009 descobriu um Sarau em Suzano, no qual artistas compartilhavam textos com experiências que eram muito próximas ao coração de Jô: “eu comecei a ver vários poetas dizendo coisas sobre sua identidade e resistência, coisas que eu escrevia nos meus cadernos”. 

Cenopoesia

Pouco depois, em 2010, a jovem poeta conheceu o trabalho de Ray Lima e Junio Santos, dois precursores de um outro cenário que mistura o teatro, a literatura e a música: a Cenopoesia. E ali um amor por esse formato nasceu. Ali, poesia era movimento e vida, não uma arte intelectualizada: “a poesia não precisa ser uma coisa chata, que necessita de postura chique pra ler, ela pode se dispor do corpo, pode fazer poesia em movimento” –  diz – “eu acho que era isso que eu buscava, porque antes quando se fala de poeta, a gente pensa em escritores dentro de um escritório, em seus momentos para escrever, mas os escritores periféricos são aqueles escritores de tanque, que vivem, que pegam trem… isso é movimento”, completa a artista.

Com a Cenopoesia, Jô passou a ser reconhecida no nicho e a aplicar oficinas da prática, inclusive para crianças e jovens de escolas públicas. Promover a oralidade e a necessidade de fazer a poesia com a participação fundamental do corpo, Jô explica, é mais do que uma atuação: “a manifestação dos atos artísticos potencializam a ancestralidade e identidade do ser, então a Cenopoesia potencializa o indivíduo social e, ali, ele não é só um ator. A Cenopoesia aproxima a arte do artista”.

O movimento da vida na arte se mostra também nas plataformas por onde a poesia se faz. Em seus trabalhos, a artista também começou a explorar plataformas como vídeo e até realidade aumentada.

Sarau Pretas Peri e Sarau das Pretas

Jô Freitas ficou conhecida nos últimos anos, entre outras coisas, por dois projetos cruciais que trazem a vivência de mulheres negras para a folha de papel. E tudo isso começou pequeno. 

Em 2014, Jô percebeu uma necessidade latente de arte acessível na sua região, no Itaim Paulista, e ali vê a oportunidade de ser uma agente de implementação de arte na região. No primeiro momento, com medo de o Sarau ser algo que as pessoas não se identificassem, Jô teve a ideia de promover o teatro, e assim, companhias e grupos passaram a se apresentar em um terreno baldio, no bairro Camargo Velho. E Jô conta que a própria comunidade fazia o espaço de convivência: “as pessoas levavam cadeiras, tapetes e papelão, além de limpar o terreno para assistir os espetáculos”, relembra. Depois de um ano e meio,e muito esforço para mostrar a relevância do projeto e necessidades do local, o espaço foi revitalizado e virou uma praça. Nessa inauguração, foi quando o Sarau Pretas Peri se apropriou do modelo que é hoje: Jô, Juliana Juliana Jesus e Tayla Fernandes – que já se conheciam – fizeram o seu primeiro sarau. E o Pretas Peri decolou.

E assim, os braços da menina-polvo alcançaram outros lugares. Jô foi convidada pela Débora Garcia, poeta, para participar do Sarau das Pretas – um sarau itinerante, nascido em 2016, que reúne poetas de vários cantos da cidade. O grupo cresceu e recentemente, em meio à pandemia, o grupo lançou uma antologia com obras de 30 poetas e escritores. “falar e fazer um livro físico é estar junto dos outros livros e fazer parte da história da literatura.”, reflete Jô Freitas.

Em 2019, junto com o Sarau das Pretas, Jô e outras participantes foram convidadas a ir para Moçambique participar de um festival de poesia, e como para todos os artistas, a experiência contou com uma grande mobilização: “foi uma experiência sem igual, que mudou a minha escrita e visão de mundo”, finaliza.

***

A história da Jô, é uma dessas histórias que nos faz acreditar que a arte é realmente um veículo de discussão social e mobilização social, elaboração de identidade e, até mesmo, de uma ocupação profissional – mais do que um ofício da paixão, um ofício que posiciona o indivíduo como um ser social, influenciador e influenciado do seu entorno, pequenos universos em expansão no meio da sociedade. E que universos.

 

imagens:

Jô Freitas

QuitoProduções

Bruno Leal

Antônio Henrique

melissa

Nossas Histórias – O caminho da pequena artista

Aqui no Nossas Histórias, a gente mostra como a arte pode ser um caminho para transformar o dia a dia de crianças, jovens e adultos em uma vida mais colorida, mais criativa e mais feliz. E por isso, hoje vamos falar sobre a história da Melissa, a pequena desenhista que tem cada vez mais mostrado que a arte a escolheu… e vice versa. 

Ela tem 10 anos e começou a ter aula de desenho há um ano e meio. Em seu desenvolvimento na arte, Melissa já começa a mostrar seus primeiros interesses e preferências – seus estilos favoritos são mangá e realismo. “Ela já demonstra interesse também em fazer faculdade de artes e se tornar uma artista profissional. Ela tem um projeto de montar uma loja virtual para vender seus desenhos e projetos artesanais”, conta a mãe, Ronilda.

O talento da jovem nas atividades manuais não fica só na arte de entrelaçar o lápis pelos dedos para embelezar o papel. Ela também pratica – e tem se mostrado muito boa – em fazer amigurumis, técnica de crochê japonês que, pela sofisticação e beleza da trama, se tornou uma arte muito requisitada na mundo do design. E esse apreço vem de família: “o crochê ela aprendeu comigo, e eu aprendi com a minha mãe. Ela queria muito, e hoje ela consegue fazer com a mão direita mesmo sendo canhota. Eu ainda ajudo ela a fazer algumas partes, mas a maior parte é ela quem faz”, diz a mãe.

A mãe conta que, quando chega das aulas, Melissa se junta, faz aulinhas e ensina as técnicas para os amigos. Além das aulas com a professora Paulinha – que é uma grande incentivadora do talento dos alunos – a pequena também gosta de buscar nos livros suas inspirações e desenvolvimento: “ela tem livros de desenho de mangá, que ensinam a fazer, por exemplo,  corpo e rosto, e ela gosta muito de ficar vendo para aprender cada vez mais”, conta Ronilda.

A Melissa é também uma ótima estudante. Com o incentivo de uma professora, a jovem conseguiu uma bolsa em uma importante escola da região. E então, começou a fazer uma coisa curiosa: passou a vender alguns de seus desenhos para os colegas de classe. “Eles mandavam fotos e a partir da foto ela fazia desenhos e cobrava R$ 10,00 pela arte”, diz a mãe. Além disso, Melissa começou a se desenvolver em pintura em tela e tem até uma encomenda de um quadro. Por ainda estar no começo, ela estava contando com a ajuda da professora Paulinha, e como tudo nos últimos meses, a atividade foi interrompida. Seu desenvolvimento nos desenhos realistas, que estava começando quando aconteceu a pandemia da Covid, também está em hiato, apenas esperando para continuar e mostrar a habilidade da artista.

Apesar da importância das artes para mostrar a criatividade, coordenação e talento da jovem, sua mãe conta que o desenho ajuda em um aspecto ainda mais importante da vida da artista: o controle da ansiedade. “Ela é ansiosa, então essa arte trabalha muito isso nela e ajuda até na integração na escola”.  Melissa, que também tem uma dificuldade na visão, inspira a todos ao mostrar que dificuldade nenhuma acaba com a sua motivação porque, quando o amor é sólido, não tem nenhum obstáculo que não dê para ultrapassar.


WhatsApp Image 2020-07-31 at 13.06.33 (1)

A importância do lazer na vida da sociedade

Aqui na IMELC falamos bastante sobre os aspectos transformadores da cultura e do esporte. Mas tem uma outra ferramenta transformadora nos nossos projetos que tem um papel fundamental na vida da sociedade: o lazer. E pensando nisso, conversamos com uma pessoa que foi suuuuper especial e participativa no Rua da Gente 2019: o tio Meleca!

O tio Meleca é, na verdade, Augusto Naliato. Sua história com a promoção da recreação, lazer e da brincadeira começou dentro da própria família, com os irmãos que já trabalhavam com a arte do brincar: “eles me falavam sobre as pessoas e os lugares que eles conheciam, e isso foi me animando para seguir o mesmo caminho”, conta. Aos 14 anos, o que era só admiração pelo trabalho dos irmãos se tornou uma oportunidade real de se juntar ao trabalho para promover a sua primeira festa e começar a missão de levar alegria e a experiência de brincar para as pessoas. Desde então já são 14 anos de carreira.

E quem pensa que brincar é uma arte que só precisa de dom e força de vontade para acontecer, se engana: “durante esses anos eu já fiz vários cursos de montagem de brincadeiras, contação de histórias, especializações para faixas etárias”, diz o recreador. Mas além disso, um dos sonhos para se profissionalizar ainda mais, é o curso de Educação Física – “mas voltado para a área de recreação mesmo”, completa.

E existe mais do que a parte de brincar na atuação da recreação. Tio Meleca conta que a montagem dos eventos e da produção para que eles aconteçam, também necessita de apoio da recreação com som, montagem e outras necessidades que fazem o trabalho ir além da farra com a criançada: “eu gosto muito dessa parte de fazer as coisas para que o evento aconteça, além de também pegar a criançada para brincar e fazer a festa ser sensacional”, explica o recreador.

Como falamos no começo do texto, o tio Meleca fez parte do Rua da Gente 2019, um projeto que levou atividades esportivas, de lazer, e culturais para os quatro cantos da cidade durante quatro meses de projeto. E, apesar de trabalhar há muitos anos com a área da brincadeira, ela conta que a experiência com o público era diferente: “levar a recreação para todos, sem distinção, com o Rua da Gente, foi muito legal porque a resposta do público era sensacional. Por, muitas vezes, não ter atividades assim sempre, as pessoas queriam aproveitar o máximo possível”, relembra.

Em tempos de digitalização e do apego das crianças com conteúdos on-line, é cada vez mais importante a atuação em prol de trazer de volta o prazer de brincar para fora das telas, trazendo interação social e, até mesmo, atividade física. Augusto também explica que, no caso de crianças sem oportunidade de acesso aos meios digitais, promover a brincadeira não deixa de ter sua importância: “[as crianças que não estão inseridas na cultura digital], muitas vezes, não tem a chance de fazer outras atividades fora de casa… então é essencial levar cultura e expressão para elas”.

Nesse momento de pandemia, os benefícios do contato presencial afetou o trabalho e, como todas as atividades presenciais, foi necessário passar as atividades para o ambiente on-line, e a reestruturação das atividades, no começo, não foi fácil, principalmente quando se trata das atividades que necessitam de espaço e interação física. Mas com um pouquinho de adaptação no ambiente on-line, deu certo: “hoje fazemos atividades de caça objetos, qual é a música, stop, danças”, conta. “Os pais estão adorando porque assim os filhos conseguem interagir com os amigos”, finaliza.

 

WhatsApp Image 2020-07-14 at 16.15.28

Nossas Histórias – Muito além de movimento

No Nossas histórias, falamos sobre histórias inspiradoras de alunos que usam a arte como ferramenta para a transformação da vida, seja em momentos de dificuldade, em momentos de felicidade ou simplesmente para demonstrar uma paixão. E hoje vamos contar uma história que teve a mistura dos três.

 Rafael Aparecido, 20 anos, é aluno de Street Dance do programa Arte e Cultura Barueri há dois anos – e sempre presente em momentos importantes, como faz questão de ressaltar. Essa paixão começou quando ele tinha 11 anos de idade, em uma pracinha perto de casa, onde os jovens do bairro se reuniam em roda de hip hop, break e street: “ eu me interessei bastante por essa arte e corri atrás para que a cada dia que passasse eu soubesse mais sobre ela não só intelectualmente como praticando também”, comenta o aluno.

E o que começou com uma brincadeira e um hobbie foi ficando mais sério com o tempo. O jovem passou a fazer parte de dois grupos de dança, os Cybernetikos e Path of Dance, com os quais chegou a se apresentar em festivais , eventos, campeonatos, teatros , parques, bibliotecas e escolas e também em cidades como Rio de Janeiro e Florianópolis. “nessa época eu aprendi muita coisa, várias modalidades que eu não sabia” – diz Rafael – “e também tive a oportunidade de levar conhecimento por muitos lugares onde passei”, completa. 

No meio desse caminho de aprendizado, a vida interferiu na arte de Rafael quando sua mãe ficou doente e passou por uma cirurgia delicada que exigia cuidados especiais e a ajuda do filho. O jovem dançarino parou de dançar por um ano e acreditava que não iria voltar: “nesse tempo, na minha cabeça, achei que nunca mais voltaria a dançar e que seria o fim de tudo aquilo que sonhei pra mim”, relembra. Depois desse período difícil, era hora de retomar o interesse adormecido. E foi aí que as oficinas de Street Dance se tornaram parte da rotina do aluno – que acompanha as aulas até hoje. Segundo o dançarino, a oficina é importante porque o ajuda a não só exercitar melhor a parte física, como também praticar e contribuir com o aprendizado de outros alunos. 

Para o jovem – cujos estilos favoritos são o popping, style e break dance – o que a dança traz de mais legal para sua vida é a oportunidade de demonstrar sua personalidade : “na dança você pode se expressar e colocar todo aquele sentimento seu de dentro pra fora, ser você mesmo. Nela você mostra tudo o que sabe e sente… e eu amo isso”, reflete Rafael.

Durante a pandemia, como para todos os praticantes de dança, a rotina do aluno foi afetada, mas apesar de dificultar a oportunidade de fazer a parte física coletiva da modalidade, Rafael tem feito o possível para treinar em casa, e se manter atualizado através de exercícios e desafios que o professor Alan Alves manda. O professor, que chegou em 2020 no programa, se surpreendeu com as habilidades do aluno  “ele é um rapaz muito dedicado e apesar de o conhecer há pouco tempo já sou feliz de ser professor dele”, diz orgulhoso.  

A dança se tornou tão importante na vida do aluno que ganhou também um papel chave nos objetivos profissionais do jovem: ele sonha em fazer faculdade de dança, ser um dançarino  famoso e, quem sabe, professor da modalidade.

WhatsApp Image 2020-07-09 at 12.28.08 (1)

Nossas Histórias – esforço por um sonho

 

Aqui no “Nossas Histórias” contamos histórias inspiradoras de alunos do Arte e Cultura Barueri, que deixaram a arte entrar nos seus corações e fazer parte das suas vidas. E hoje vamos contar a história da Maria Eduarda. Ela tem 13 anos e é aluna do Núcleo de Dança de Barueri desde 2019.

 

A história da Duda – como é carinhosamente conhecida – com a dança começa muito antes aos 7 anos, e com uma modalidade de dança muito diferente do ballet: o funk. A mãe, percebendo o interesse da filha pela arte incentivou a pequena, que começou a fazer ballet nas Fábricas de Cultura, em São Paulo onde moravam. Pouco tempo depois, era hora de entrar em uma academia para melhorar e se profissionalizar.

 

O sonho começou a ganhar forma quando a mãe ficou sabendo sobre um teste no Theatro Municipal. Inscrições feitas e oportunidade à vista. No dia, após um atraso de 15 minutos, Duda não pode se apresentar. Mas ali não seria o fim. Duda fez um curso preparatório de ballet e ao saber da oportunidade de um curso de férias com a Companhia Bolshoi, a jovem bailarina fez um grande esforço: “vendi doces na escola, fiz rifas e vendi trufas pelo bairro para participar do curso. Consegui todo dinheiro que precisava fiquei muito feliz, mas para minha tristeza, fui reprovada no teste”. 

Essa sequência de empecilhos virou combustível. Durante um ano, Duda fazia aulas de teatro de manhã, escola à tarde e aulas de pilates e ballet à noite. E depois de uma segunda reprovação, Duda encontrou a chance perfeita – o Núcleo de Dança de Barueri. “Eu não fazia ideia de como frequentaria o curso se eu passasse porque na época eu morava em São Miguel Paulista”, diz. Ao fazer os testes do Núcleo, Duda passou para o terceiro ano do curso, aos 12 anos. O Núcleo de Dança de Barueri é um programa de formação de bailarinos dentro do Arte e Cultura Barueri.

Morando longe, a rotina não era fácil. A jovem saía da escola às 11h30, mais cedo que os colegas, pegava o trem onde almoçava uma marmita preparada pela mãe. Em Barueri o avô de uma amiga a levava para o curso e a mãe de sua amiga, Helô, a levava de volta para a estação ao final do dia. Em 2020, percebendo a rotina exaustiva de Duda, Fabiana (mãe de Helô) a convidou para morar em sua casa. A resistência foi grande para que a filha fosse morar tão longe sendo tão nova. Mas levar os sonhos da filha a sério deu forças para os pais tomarem a decisão. “Sou grata a Deus,  minha mãe,  ao núcleo e a Fabiana por essa oportunidade”, completa ela.

Hoje a modalidade favorita dela é Ballet Clássico e seu maior sonho é entrar em uma companhia de dança e dançar em muitos palcos ainda. A vida que estava mais tranquila nesse ano, ao seu mudar para Barueri e mudar para uma escola da cidade, a pandemia colocou uma dificuldade que está sendo contornada pela paixão por dançar: “eu tenho praticado aulas online toda segunda e quinta. As aulas online ajudam  muito manter a disciplina, apesar de não ser a mesma coisa que estar com o professor pessoalmente”, finaliza. 

WhatsApp Image 2020-07-21 at 12.24.00

Lu Campos – a arte que transborda pra vida

A gente já contou por aqui um pouco da experiência da Cia Gargarejo com o teatro, as formas de expressão da identidade étnico-racial no musical “Bertoleza” e a pandemia. Acontece que a conversa rendeu mais do que esperávamos e de uma forma especial, através da Lu Campos, a atriz que interpreta a personagem principal – com sua história de descobrimento de identidade e interpretação de uma personagem negra, mulher e com uma lição a ensinar. 

A história da Lu com os palcos não é a tradicional jornada de alguém que estudou teatro por anos para seguir um sonho. A artista é formada em comunicação e, em 2014, após o adoecimento da mãe, Lu passou por um processo de reestruturação da vida profissional, deixando empregos fixos para se dedicar melhor ao cuidado da mulher que Lu define como a “viga mestra” da casa, até que uma condição semelhante ao Alzheimer mudasse suas vidas. Nesse período, a convite de um amigo, Lu decidiu fazer um Workshop de teatro musical, em Campinas, onde morava, uma atividade que lhe deu a chance de entender melhor sua forma de expressão com a arte e usá-la como um processo terapêutico em um momento delicado da vida.

Peça: Deu a louca no convento – Teatro Castro Mendes em Campinas, 2017.

E como acontece na cadência de acontecimentos da vida, esse trabalho a levou a conhecer a preparadora vocal da Cia Gargarejo, Ju Manczyk, e enfim, fazer parte do grupo.

A história da Cia Gargarejo com Bertoleza começou em 2015, quando o diretor Anderson Claudir decidiu trazer a personagem de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, e convidou a artista a interpretar a personagem que dá nome ao espetáculo. Desde 2015, a peça foi trabalhada pelo grupo e os levou a várias apresentações importantes como Festival Satyrianas e o Festival de Cenas Curtas de Sumaré  – esse último em que Lu Campos ganhou como artista revelação. 

Com as experiências nas apresentações, Lu revela que ainda não tinha total consciência do que a peça significava: “eu ainda não tinha introjetado o protagonismo da personagem, eu já entendia que dizia respeito a uma parte de mim, mas não estava tão envolvida com as questões raciais e de negritude”, explica.

Em 2019, com a retomada da peça pela companhia – agora baseada em São Paulo – e seu processo pessoal de descoberta e identificação como uma mulher negra, Lu começou a perceber a relação da personagem com uma questão que ia além de sua experiência como artista, mas dizia respeito à ancestralidade, história e negritude. Foi durante esse ano que o diretor da peça, Anderson Claudir, fez a opção de remodular o espetáculo para falar de mulheres negras com um elenco majoritariamente formado por atores negros. 

Cena de musical “Bertoleza” realizado pela Cia Gargarejo em 2020

Nesse processo, Lu passou a se apropriar mais e mais do assunto. Ela entrou para a cia TEN (Teatro Experimental do Negro), começou uma pós-graduação em Matrizes Africanas, na Casa de Cultura Fazenda Roseira – uma antiga fazenda escravocrata da região – e também fez um curso de psicologia voltado ao assunto. Tudo isso resultou em uma personagem que passou de uma mulher ancorada no sofrimento, para uma personagem ancorada na força da mulher negra – diferente das primeiras apresentações de anos atrás: “O amadurecimento e crescer da Bertoleza [com os anos] teve muito a ver com a minha pessoa e por isso acabou nascendo um apego com a personagem… aliás, se algum dia eu tiver que passar ela pra frente, vai ser de uma forma muito carinhosa porque eu considero ela uma das minhas vidas”, completa Lu. 

Essa virada trouxe uma nova identidade para o espetáculo, tratando sobre o feminismo e protagonismo da mulher negra, em meio a situações difíceis como preconceito e racismo. E nesse uso do teatro para falar sobre temas tão espinhosos, Lu acredita que a arte tenha o papel de tocar em questões que as palavras não alcançam: “a mãe de uma das integrantes do elenco nunca tinha visto uma peça de teatro, e quando ela assistiu, ela se emocionou muito… e eu gosto de dar esse exemplo porque ela não é uma pessoa do meio artístico, acadêmico, mas ela conseguiu se conectar com aquela mulher… e é isso que a arte faz”, pontua. 

Em momentos de pandemia, e com a evidência do racismo na sociedade e do crescente movimento Black Lives Metter, Lu analisa a relevância de trazer a pauta à tona: “olha a importância dessa reverberação toda, em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. A partir disso, praticamente uma revolução se instituiu”.

Bertoleza foi apresentada no SESC Belenzinho até duas semanas antes do isolamento social e rendeu uma boa surpresa à artista: Lu foi eleita novamente atriz revelação, dessa vez pelo, site É Sobre Musicais. E não é pra menos. Além de toda a preparação e envolvimento com a história que misturou Bertoleza e Luana, a jovem atuou e cantou na peça, e, faz questão de comentar, a próxima aventura no campo da música será aprender um instrumento: “eu quero aprender a tocar berimbau”.

Nesse momento, as apresentações de Bertoleza estão canceladas, mas o trabalho não para. Lu continua com seus projetos e a Cia Gargarejo se prepara para o retorno das atividades no futuro e, com sorte, com muitas apresentações de Bertoleza.

 

                                                               ***
Parte da construção e situações que acontecem com a protagonista é relacionada à figura de João Romão, o personagem que, através da sua posição de opressor, traz um lado importante de ser mostrado na história do musical. Por esse motivo, conversamos também com o Bruno Silvério, ator e interprete do personagem. E você pode conferir abaixo:

3_DSC_0032

Teatro, Bertoleza e a questão étnico-racial

A gente sabe o quanto a arte é importante para o desenvolvimento coletivo da sociedade, contribuindo para cidadania e cooperação. Mas a arte também pode ter um papel muito importante de trazer à tona a discussão de assuntos importantes e difíceis para o todo.  E vamos mostrar um exemplo disso.

A Companhia Gargarejo nasceu em 2014, em Campinas, com o objetivo de abrir o cenário local de teatro – cenário muito influenciado por grupos fechados de teatro nascidos dentro da Universidade de Campinas. A Gargarejo, aberta para todos que quisessem participar, começou fazendo teatro-escola, com a adaptação de obras literárias infantis e para o vestibular, como Vidas Secas, do Graciliano Ramos; O Auto da Barca do Inferno, do Gil Vicente; e O Cortiço, do Aluísio Azevedo. 

Em 2017, depois de uma pausa em Campinas, o grupo recomeçou em São Paulo a missão de levar histórias e, mais do que isso, uma mensagem: “já não bastava mais fazer o que encomendavam da gente, a gente começou a entender qual a nossa identidade, o que a gente queria falar”, diz Anderson Claudir, diretor da Cia Gargarejo. O grupo passou a trazer à tona a questão étnico-racial para dentro das peças, e assim nasceu o musical “Bertoleza”, que foi construído ao longo de cinco anos de trabalho e descobertas de identidade da companhia e dos atores. Bertoleza teve recentemente uma temporada de 12 espetáculos no SESC Belenzinho – com todos os ingressos esgotados.

Nós conversamos com o Anderson e com a Andreia Minczyk, produtora, para falar um pouco sobre o caminho da Gargarejo e a importância do discurso que carregam dentro da sua arte. Confere aí!

Encontrando um caminho: a questão étnico-racial
IMELC Como vocês foram achando o caminho de vocês de falar o que vocês queriam?

Anderson – No nosso trabalho de adaptação das obras, a gente foi percebendo que não queria só fazer uma coisa para os alunos passarem no vestibular. A gente começou a entender a nossa identidade e o que a gente queria falar. Acho que isso foi acontecendo também [a medida que] a gente tinha que adaptar para crianças e adolescentes, porque eles tinham que se interessar e se identificar. A gente quer se comunicar com todo mundo – do público em geral ao crítico.

Andreia – Pra gente não fazia sentido o teatro falar com apenas uma parcela da população. A gente sentiu isso com Bertoleza, muita gente viu e gostou, e os críticos também.

Bertoleza: o musical
IMELC Vocês enfatizam bastante a questão étnico-racial. Como nasceu Bertoleza dentro disso?

Anderson – Nós estávamos adaptando O Cortiço e quando chegamos naquela mulher (Bertoleza), pensamos: precisamos falar sobre ela. Eu, como homem negro, penso nas questões que são importantes para mim. A questão étnico-racial aparecia em outras peças, mas esse foi o momento de focar mesmo. E aí a gente viu que essa história precisava contada por atores negros, dar visibilidade, colocar essas pessoas no palco. Acabamos mudando o elenco e achando um caminho de entendimento do discurso e o quanto era importante falar sobre a mulher negra e o apagamento da população negra. Então pegamos a personagem com aquela história trágica e demos uma outra cara pra ela, transformando em uma protagonista. E isso acabou sendo muito forte em outros trabalhos também.

IMELC Esse é o primeiro musical de vocês?

Anderson – A gente está trabalhando em Bertoleza desde 2015. Nem era para ser um musical [risos]. Eu fui adaptando a obra e escrevendo músicas, mas era para os ensaios de grupo, pra gente cantar junto. Bertoleza vem de várias experiências: apresentamos em festival de cenas curtas, cenas médias, em praça de Campinas, fez leitura, roda de samba… Aí em 2019, um amigo, o Emílio [se tornou coreógrafo do grupo] comentou: vocês estão fazendo um belo musical. Aí quebrou [aquela resistência] e falamos: ok, então vai ser um musical. Pra gente foi importante pesquisar os ritmos brasileiros a partir do século XIX e colocar essa identidade. E na peça todos os atores também tocam e cantam.

Andreia – A gente quis que tivesse uma identidade bastante brasileira. E foi engraçado, uma vez a gente falou: “poxa, tem que ter sanfona… quem quer tocar sanfona?”. De um dia pro outro ficaram ensaiando, ensaiando, ensaiando pra tocar Sanfona.

IMELC E fala um pouquinho da Lu Campos, a protagonista… como foi trabalhar com ela?

Anderson – A Luana é o ser mais maravilhoso do mundo – pode colocar que eu falei isso!  [risos].Ela é de um magnetismo, de força incrível. E ela também passou por um processo de mudança de vida, de se enxergar como mulher negra e a personagem também foi mudando nesse processo da Luana.

Andreia – Não tem o que falar! Ela é uma pessoa incrível que a gente pode contar pra tudo.

 

Pandemia e o futuro
IMELC – Como vocês estão fazendo para driblar esse momento e que vem para o futuro da Cia. Gargarejo?

Anderson – Lá em 2015 quando a gente enxergou a Bertoleza, começamos a enxergar outras mulheres também. A gente tem um projeto chamado O Cortiço por Elas, com cinco peças sobre mulheres [personagens da obra] pra tratar de questões, principalmente étnico-raciais. A próxima peça é sobre Rita Baiana. Então estamos usando esse momento pra escrever a peça, escrever as músicas e para estabelecer o grupo melhor para começar a utilizar as ferramentas digitais também.