Contagio - Texto

A percepção da cultura sobre os desastres

Na edição de 8 de abril da Revista Veja, a matéria “Admirável Fim do Mundo” ressoou com um pouco mais de força aos nossos ouvidos. Não particularmente pelo medo da veracidade das profecias hollywoodianas citadas na matéria, mas principalmente por tratar da forma como a cultura se manifesta, e consequentemente manifesta os nossos anseios, sendo tão sensível para nós que é até capaz de criar, através das narrativas de tantas obras, uma sensação geral e intangível que nos acompanha nesse tempo de coronavirus: a sensação da ameaça de um mal que chega para colocar a nossa humanidade em xeque.

Durante todo o século XX, dois aspectos nos deixaram mais propensos a essa sensibilidade, e talvez o primeiro esteja em função do segundo: a quantidade de produtos culturais – como filmes, livros, HQs, músicas – que tratam de um evento “apocalíptico”, seja um vírus novo, um ataque zumbi ou um efeito do aquecimento global; e, o outro aspecto, é a globalização, que faz com que a narrativa de um desastre local (como guerras, crises humanitárias, tsunamis, terremotos, fome, seca) e também global (como o coronavirus) afete cultural e psicologicamente bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Desde que o mundo é globalizado, a sensação de que sempre tem alguma coisa acontecendo é verdadeira, porque tem mesmo. Em algum lugar tem. E então chegamos a esse momento em que uma coisa está, de fato, acontecendo em todos os lugares ao mesmo tempo – com uma velocidade e raio sem precedentes – que nos causam aquela impressão de: “meu deus, aquele filme estava certo!”. E muitas vezes, essa sensação geral não vem necessariamente do medo do fim da humanidade, mas da falência da civilização, como é o caso de distopias famosas na cultura pop, como Jogos Vorazes, O Conto da Haia, 1984, Farenheit 451 e tantos outros que levam as reações do medo e da ameaça às últimas consequências.

E onde nós, a massa da humanidade, ficamos? Ficamos no meio das narrativas, que ganham mais ou menos força à medida que a nossa experiência com o mundo endossa o que vemos na tela, na página do livro ou na canção. Se “Contágio”, de Steven Sonderbergh, já foi um entretenimento pra passar tempo, hoje ganha teorias, baseia projeções de jovens na internet e é, por vezes, evitável, afinal: “deus me livre de assistir isso agora”.

Tudo isso nos faz pensar o quanto a cultura e a arte são importantes para nos ajudar a dar conta e vazão dos receios que todas as gerações há milênios têm: que as coisas uma hora podem ser muito desafiadoras (como agora) e não sabemos como lidar com isso.

Tudo isso nos faz pensar o quanto as histórias e elaborações que fazemos da vida através da arte são essenciais para a gente dar à imaginação o poder de realizar aquilo que não queremos que se realize na vida real, e ao mesmo tempo, o quanto somos tão sensíveis à cultura, à elaboração das histórias e das experiências uns dos outros, que somos tentados em nossos sentimentos e imaginação a tomar um pouco para nós da cautela, do medo e das reações de alguns dos personagens em quem nos espelhamos.

É nesse bololô que conseguimos perceber, pelo menos um pouco, que a sociedade e a cultura globalizada se retroalimentam em suas narrativas de elaboração do mundo, do medo, do desconhecido, e que provavelmente sem isso, sem a imaginação e a emoção, poderíamos estar elaborando muito mal nossos sentimentos – que sem elaboração racional podem se tornar um perigo para o outro.

Por isso, assista os filmes de apocalipse zumbi, distopias e desastres… são boas histórias, e muitas vezes, têm muito a ensinar sobre o espírito de comunidade. Mas não se preocupe. Essa elaboração do desastre existe justamente pra nos ajudar a lidar com nossos medos e perceber que, mesmo no pior dos cenários, há sempre um jeito de superar os desafios.

 

Viva à cultura por nos dar mais do que um passatempo, mas uma forma bonita de pensar o espírito humano.

O teatro_ o nascer e o criar Imagem

Por Daniel Bernardes – O teatro: o nascer e o criar

Em primeiro lugar quero agradecer por estar escrevendo nesta página. E também parabenizá-los pelo empenho artístico que todos os professores de artes têm realizado, via internet, neste período de pandemia. O que mantém minha confiança de que a arte pode estar não só nos grandes teatros e em festivais, mas em todos os espaços do mundo, do nosso dia-a-dia; a nossa vida, enfim, com arte, a começar pelo centro das nossas casas e entre as pessoas mais próximas da nossa família. Provaram que vão além dos limites e estão organizados para isso, são capazes de se libertarem olhando de forma diferente para as coisas, por outro viés, buscando outras vias, outras alternativas, diferentes do padrão que todo mundo já busca.

Tenho que lhes dizer, antes de tudo, que sim, sem dúvida, o teatro é um meio de comunicação que utilizamos dia a dia, portanto uma forma de expressão humana. É uma linguagem simples (o que não é o antônimo de complexo, mas que é básico), pois que até o analfabeto faz cena, e a criança iletrada também faz.

O ator adquire mais controle de suas expressões humanas, através de muito esforço e muito treino. Para conhecer alguém, ande junto com essa pessoa. Para saber melhor de algo, vá aos princípios (da origem se acompanham as transformações). Qual a primeira expressão? Sem dúvida, é nascer. Talvez expressemos algo quando damos algumas pancadas na barriga da nossa mãe, mas isso só ela percebeu ou só alguns. Mas, quando nascemos, nos encontramos com o mundão aqui fora e com os outros de fato. Depois abrimos um berreiro, aprendemos a sentir e pensar esse “outro” que está fora, e depois falamos… Tudo isso é expressar. Expressamos ações e todas elas imitam a primeira, que é nascer, todas elas nascem na gente. A fala nasce da boca, o gesto nasce do corpo, as ideias da mente, tudo nasce… E imitamos isso. Imitamos o movimento criador. Imitamos para aprender criar. Imitamos para aprender qualquer coisa; imitamos, na verdade, ao expressar, ao se comunicar, o nosso nascimento.

Criar, no entanto, não é só pôr no mundo, não é mesmo? Toda mãe sabe disso. Mas é acompanhar as transformações, orientar e instruir cada ação para uma finalidade. E é por isso que existe o teatro. Para gente poder ver e perceber as ações da vida acontecendo, se transformando e sendo imitadas. Para tentar saber no que vão dar essas ações, esses gestos, essas vidas. Como disse Jean-Paul Sartre, só com a morte podemos concluir um sentido ou não para as nossas vidas. No teatro é usual, portanto, cada ação ter um propósito, ter um fim, um objetivo, uma orientação, uma instrução, um sentido (mesmo que aberto ou em suspensão), porque queremos saber no que vai dar. É usual, no teatro, nascermos e morrermos a cada dia. Para afirmar o sentido que a vida tem e há de ter, quer queiramos, quer os outros queiram.

Teatro: “lugar da onde se vê”. A partir dessa definição habitual, Eleonora Fabião afirmou que o ator ao mesmo tempo: vê, se vê, se vê vendo e se vê sendo visto. O que reitera que o teatro é uma forma de se ver por inteiro e de se estar por completo. Eis aí o paradoxo, porque para isso precisaríamos estar morto. Toda ação, no palco, carrega em si esse conflito, o paradoxo essencial que atrai inevitavelmente a nossa atenção. Tendemos a buscar finalidades para as coisas (sabemos que tudo que nasce tem um fim, e queremos um sentido para isso). Na verdade, o que queremos ver são esses conflitos sendo resolvidos e quanto mais resoluções, mais sentidos, menos fins e mais eternidades. Somos capazes de criar sentidos para nós mesmos durante toda a vida, quando simplesmente queremos ser vistos, ouvidos e sentidos.

Orquestras online imagem

Iniciativas de orquestras aproxima o público da música clássica

O surto mundial de Covid-19, o novo Coronavírus, está gerando uma pausa em diversos setores, inclusive o de cultura. Por conta disso, muitos estão se reinventando para continuar atraindo o público e mais interação.

Em outros textos, mostramos as medidas tomadas pelos museus e teatros através da produção de conteúdo gratuito online para o público que está em casa. Vocês sabiam que tem até orquestra produzindo material online para divulgar seu trabalho e não perder a interação com o público?

Um exemplo dessa alternativa é a Orquestra do Metropolitan Nova York que está oferecendo diariamente, sem custo,  vídeos de ópera que ficam disponíveis por 24 horas, incluindo uma semana inteira dedicada a Richard Wagner e a própria abertura da temporada de 2020 da Osesp (marcada com a estreia de Thierry Fischer como regente da orquestra. Wilhelm Richard Wagner foi um maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão, primeiramente conhecido por suas óperas.

Segundo matéria realizada pela Folha de S. Paulo, existem duas análises em relação a esse cenário. A primeira é que a experiência acústica é diferente quando se passa ao vivo do que quando é registrado em vídeo.

Porém, o segundo ponto a ser analisado é “positivo”, porque os vídeos não serão apenas oferecidos como uma maneira de entreter quem está em casa, mas também servirá para chamar a atenção de órgãos públicos e privados para as consequências do cancelamento dos concertos.

“Por isso algumas dessas orquestras têm sugerido a doação do valor dos ingressos cancelados para a própria orquestra —a Sinfônica de Chicago é um exemplo. E é mais o desespero do que a generosidade que move tantos músicos a divulgar de graça vídeos, aulas e lives.”, afirma o veículo.

Outro exemplo que vamos citar é a Orquestra Sinfônica de Mogi das Cruzes que também suspendeu seus ensaios e apresentações devido ao surto de Covid-19, o novo coronavírus.

Para não parar todas as atividades, os professores estão realizando aulas online para os alunos e fazendo todas as reuniões via internet.

A orquestra já realizou apresentações na Sala São Paulo, um dos principais espaços de música clássica do Brasil.